sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Homenagem

Queridos Escreviventes e Visitantes,


Dia 13 de dezembro de 2008, realizamos a nossa emocionante confraternização do “Projeto Escrevivendo”.

O escrevivente Benedito prestou uma homenagem maravilhosa ao grupo, com palavras singelas, que tocou os nossos corações. Apreciem abaixo o conteúdo do cartão personalizado, e peço desculpas por não ter disponibilizado antes.




Paulinho

Na noite escura,

Entre esquinas solitárias

Segurei a mão apaixonada.


Sandra Tanaka

No vento frio,

Olhos tristes

Aquecem meu coração


Marlene

Brincavam,

Entre miados e latidos,

Ignorando a mão da natureza.


Loreta

Esquecendo-se animais,

Encheram meus olhos

De ternura humana.


Neuza

Se desabotoando do inverno

Despontou um único botão,

Tímido desnude da prima Vera.


Bruna

Poças de verão

Tornam leve sua jornada

Pelo campo de girassóis.


Maria Guilhermina

E flutuaram meus dedos

Por sobre os lábios

Em que o amor falou.


Luís

Cara metade que me falta

Luz me esclarece.

Divina que me faz pagão.


Sandra Regina

Meus olhos deitados

Na linha do sorriso infantil.

Leito onde descansa a ternura.


Concha

Pelo corte dos dentes

Escorre, ternura, o amor

Que provê a vida.


Mafuane

Giram e dançam crianças.

Levantam pó como a chuva e

Anunciam novos tempos.


Maria do Carmo

Mais que matéria ou idéia,

Compartilhar seu sorriso

È me fazer irmão.


Sandra Schamas

Despontam sorrisos.

Brilhos diários infantis.

Sustentadores da esperança.


Pedro

Uma só camisa guerreira

Reunindo soldados loucos.

Espartanos? Não, Corinthianos.


Nara

Entre flores do meu jardim

Cultivo o mais vivo botão:

Filho que floresce.


Roberto

Olhares que se confrontam.

Mãos que se aquecem,

Ignorando o frio da chuva.


Thiago

Novos sentidos se dão

Aos abraços e olhares.

Irmãos se descobrem.


Eliana

O vento, que limpa,

È a chuva, que enxágua,

Preparam o recomeço do Sol.


Karen

Das flores que cultivei,

A alegria me colheu.

Era Giulia a sorrir.


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Forte Abraço!

Mafuane


terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Sushiman ao molho branco

Por Dagô Teodoro (do Escrevivendo Luz)

Sempre que via um homem oriental ficava extasiado. Filho mais velho de uma família conservadora, desde pequeno escondi meus verdadeiros desejos. Cresci e até namorei algumas meninas, mas no refúgio do meu quarto, quando batia uma punheta... Era nos rostos arredondados e de olhinhos puxados que eu pensava. Esse desejo ficou latente em mim até os vinte anos. Estava no último ano de gastronomia e havia conseguido um estágio num ótimo restaurante de comida japonesa na região do Itaim. Isso me daria muitos pontos na tese conclusão de curso. O chefe de cozinha era sushiman muito bem conceituado no meio gastronômico. Mas ao vê-lo só pensava como seria aquele monumento sem kimono, pois era um belo oriental, 35 anos, solteiro, cabelo todo espetadinho levemente desestruturado, o corpo malhado com músculos bem distribuídos em seus 1,75m, olhinhos puxados e um sorriso maroto emoldurado por um cavanhaque que o deixava com ar de safado, além de tudo isso, era extrovertido e bem falante, eu pagava o maior pau por ele. As semanas seguiam e eu só na vontade. Até que numa madrugada o japa me escalou para ficarmos depois do expediente e montarmos um menu especial, logo de cara gostei da idéia. O novo cardápio foi um sucesso! A partir de então, tornei-me seu pupilo preferido, passei a acompanhá-lo a eventos em hotéis e convenções e saíamos para batermos uma bolinha com o pessoal do restaurante nos dias de folga. Um dia, ele apareceu com uma gata, disse que era sua nova transa. Fiquei roxo de ciúme, mas me segurei. Para me provocar, ele me contava tudo. Falava como ela o beijava, as posições que eles faziam na cama e até o modo como ela gemia na hora do rala e rola. Pensei em desistir daquele japinha. Mas novamente ficamos no restaurante depois do horário. Naquela madrugada, o japonês testou alguns pratos a base de saquê. Saquê vai, saquê vem e o japa ficou doidão. Foi minha chance, me ofereci para levá-lo embora. Ao entrarmos no apartamento, deitei o japa na cama, tirei-lhe os sapatos e as meias, que pés maravilhosos, com cuidado afrouxei o colarinho, desabotoei o avental. Ele não tinha muitos pêlos. Não agüentei e habilmente desvencilhei o cinto e abaixei as calças dele. Ele estava com uma cueca vermelha modelo boxer. Que delícia! Decidi fazer o teste do bafômetro e cai de boca não rashi do japa. Ele começou a balbuciar: “Caralho, que boca gulosa e safada... Isso, mama!” De repente o japinha me segurou com força pelos cabelos e empurrou minha cabeça para junto do seu saco. Era minha primeira chupeta! Engoli e suguei aquela trolha oriental com gosto. Ele ergueu as pernas e exibiu o anelzinho nipônico cheio de pregas. Logo passei minha língua ao redor daquele cuzinho depilado, mordi a bundinha do japonês, dei umas palmadinhas de leve. Ele gemeu e me pediu que fizesse um fio terra, introduzi meu anelar naquele Monte Fuji suculento. O japa se contorceu de prazer e exigiu que eu o comesse. Minha casseta estava dura feita uma verga. Só tive tempo de sacar um pacotinho de camisinhas, encapar meu tempurá e lambuzar o sushizinho dele com gel lubrificante. O japinha ficou na posição de frango assado e eu soquei com força. “Me fode seu puto! Arromba esse cu que tá com fome de pica!” Ele gemia feito uma gueixa louca. Começamos um vaivém alucinante. Estávamos tão empolgados que chegamos à velocidade cinco. Nossa respiração passou a ser uma só e aquilo me dava mais tesão para beijá-lo loucamente. Comi o japa em várias posições possíveis e imagináveis até gozar na cara dele. O japa bateu uma punheta e ejaculou em cima de mim. Exaustos, ficamos por algum tempo abraçados nus, lambuzados de suor e porra.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Lupanar

Estas são as produções correspondentes à proposta que levamos no sétimo encontro (cf. "Encontros"). Os nomes dos autores são pseudônimos.


Proposta: lupanar. Objetivo: trabalhar o vocabulário do poema "O elixir do pajé", de Bernardo Guimarães. O lupanar é uma atividade lúdica de escrita em que se fornecem vocábulos muito exóticos, cujo significado seja desconhecido da maioria dos participantes. Então, pede-se a produção de um texto que contenha todas as tais palavras. Para contornar a dificuldade, muitos tentam fazer associações com a forma da palavra, seja a forma escrita seja a forma sonora. Mais especificamente: joga-se com a dicotomia significante x significado, a qual compõe o signo.

A lista é a seguinte: cona: vulva; peta: mentira; endefluxar-se: constirpar-se; pívia: masturbação masculina; manitó (manitu): entre os índios alonquinos dos EUA, energia vital, imanente a homens, animais, plantas, fenômenos da natureza; triaga (teriaga): medicamento caseiro, antídoto contra veneno; inúbia: tipo de trompeta de guerra dos índios tupi-guaranis; boré (toré): trompeta; marzapo: pênis; crica: vulva.

O BANQUETE ESTRANHO

por Carmina Joana

Ao sair do manitó, encontrei meu amigo Carlos, que me disse:
- Olha, sua peta está aparecendo!
Enrubesci e pensei cá com os meus botões:
- Tinha que ser ele para usar essa linguagem pívia.
Afugentei os pensamentos chulos e fui juntar-me ao grupo. Parecia estar havendo uma discussão acalorada. Lizandra era a mais exaltada. Não é para menos, eita mulherzinha crica! Achei um lugar bem ao lado da Lia - meu amor não declarado - que conversava com Cláudio. Que olhos, que lábios, que maravilha seria endefluxar-se naquele olhar. Sem perceber, foram chegando os pratos daquela culinária exótica e multicultural. Disseram que era teriaga ao molho toré. Carlos, o engraçadinho, propôs:
- O primeiro a provar é o Miguel, que tem o paladar refinado, assim como o seu linguajar!
Lia voltou-se para mim e sorriu.
Desajeitadamente, experimentei o prato principal.
Senti uma ardência, um calor, um fogo na garganta e por fim, desavergonhadamente, pus a cona para fora.
Lágrimas escorreram de dor e de vergonha. Lia me abraçou. Inúbia e bela, beijou-me e assim, permaneci em seus braços.
Terminamos a noite degustando um bom mazarpo.
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O DIA EM QUE MEU AURÉLIO PIFOU
por Mr. Polifrases
O que ela queria mesmo, depois daquele estafante dia de trabalho, era indefluxar-se na cama, cona e pívia relaxadas, e pensar na vida.

Mas, inúbia e crica que era, não conseguia tirar da cabeça a peta que levaria por conta do que havia feito com o Marzapo.

Agora sim é que o Marzapo iria contar para todo mundo, como de fato contou, que ela era a maior teriaga, toré que havia pisado a terra desde que o homem caminha sobre duas pernas.

Segunda proposta

Caros visitantes,


Nesta postagem, estarão os textos que são resultado de nossa segunda proposta (veja abaixo), a mais complexa do módulo.


Antes de publicar aqui, os escreviventes debateram muito sobre erotismo e pornografia, fizeram a troca em duplas e eu, mediadora responsável pela parte lingüística da oficina, fiz também, por minha vez, críticas e sugestões aos textos. Lembramos que sempre ratificamos a autoria, segundo a qual os autores escreviventes podem ou não acatar a nossos pitacos.


Vale a pena ler todos os textos, pois são bem escritos e muito críticos, obtidos por meio de muito trabalho, muito suor. Pode-se dizer que trata-se de verdadeiras conquistas.
SEGUNDA PROPOSTA
Elaborar um texto discutindo o que é (natureza, essência), para que serve (prática social, situação de comunicação) e como se constrói (linguagem, escolhas lingüísticas, imagens) um texto erótico e/ou pornográfico. Pode-se acrescentar experiências, memórias em geral (de vida, de livros, de filmes, etc.). Esperamos que daí saia um texto híbrido de estrutura argumentativa e narrativa. Não há especificações de gênero textual.



EROTISMO E PORNOGRAFIA
ENSAIO
Por Bruna Nehring
“De todas as aberrações sexuais, a castidade
é a mais estranha.” Anatole France (1844-1924)

Basta o som da palavra erotismo para que a maioria das pessoas sinta-se agredida por algo quase obsceno. Parece difícil separar “erotismo” de “pornografia” quando na realidade há um mar entre os dois termos.
Entendo muito bem certas hesitações em abordar o assunto erotismo como um tabu, como algo sujo e inconfessável. Para mim, o erotismo, além das definições lacônicas dos dicionários, é a exaltação do ato sexual, evolução natural do amor sentimental para o amor carnal. O amor romântico não morre com o nascer do erotismo entre duas pessoas, pelo contrário: o erotismo alimenta e rejuvenesce o amor romântico, visto que, da criação erótica na relação sexual, renascem as vibrações que fazem com que as pessoas reencontrem seus parceiros, diminuindo a distância das horas de separação, voltando a reconhecer-se pelo amor, pelo contato e pelo desejo que os afazeres, os problemas, as dificuldades diárias extenuaram no cansaço e na mesmice; isso no que se refere a relações íntimas.
Há porém o erotismo empregado de forma visual, com a finalidade precípua de levar as pessoas para ele. São as imagens, os versos, as palavras, os sons, que são levados a público para descrever e ilustrar o erotismo. Uma pintura ou escultura de um nu não é suficiente para levar a pessoa à sensualidade. Ela deve ter algo mais, um requinte de técnica, uma posição especial, um detalhe mais em evidência, uma intenção no olhar; por exemplo: Goya pintou duas mulheres aparentemente estáticas, porém, subjetivamente, percebe-se muita sensualidade entre as duas, sugerindo uma relação lésbica. Ao mesmo tempo, tais obras devem revelar a capacidade de quem as fez de transmitir algo belo e construtivo, algo quase acima do terrestre, algo mais sublime do que a definição etimológica daquilo que foi criado. Essa imagem, com essas características e com essas intenções, se transforma numa mensagem que conta - e inspira - uma estória. Ela revela a alma de quem a compôs ou de quem foi retratado ou do povo de onde surgiu. É a criação artística em volta de um sujeito.
Existe na mitologia grego-romana a divindade Priapo-Fallo (deus do sexo), de semblante feio, que, representado numa escultura do primeiro século a.C., ostenta um pênis de grande desproporção pela sua pequena estatura; em exposição num museu, terá exercido sua função artístico-educativa. Uma reprodução do mesmo nos salões de um evento ligado, por exemplo, à divulgação de um novo contraceptivo, vai adquirir um efeito erótico, forma de lembrar aos freqüentadores o quanto é importante usar o produto promovido. Já decorando a entrada de um bordel, sua intenção será evidentemente pornográfica, fora de qualquer contexto, mera obscenidade.
Recentemente, escrevi a receita de um drinque para um amigo que, em breve, receberia para jantar uma mulher de seu interesse. “KIR-ROYAL”, um drinque a ser servido como aperitivo OU na sobremesa, dispensando o café. Muito simples, simples demais.
Visto que eu estava, junto com a receita, desejando-lhe sucesso na conquista, quis dar um ar mais romântico, mais sensual, num texto um pouco mais longo do que uma simples receita de dois ingredientes e sugerir nas entrelinhas quão erótica poderia tornar-se a ceia. Transformei a receita original nisto:

Querido amigo,
Aproveite a receita daquele meu conto “O Sena na neve”. A comida é fácil, rápida e de grande efeito no paladar e no visual. Sirva os vinhos durante o jantar e guarde a garrafa de champanhe na geleira (de prata, se puder), bem à vista na mesa até a hora da sobremesa. Coloque em cada taça de boca larga (como aquelas do dry Martini) uma dose de licor de Cassis (se não tem medidor, use uma colher de chá ou de sobremesa, mas a medida mais apropriada seria aquela que V. imagina caber na boca dela!).
Agora (atenção ao gestual, carinhoso, misterioso, sensual...) abra a garrafa de champanhe (brut, por favor... É mais caro, mas coloca você num nível de privilégio e ela, num pedestal...) e aguarde alguns segundos, para que a espuma se dissipe, e encha o restante dos copos. Escolha um fundo musical: algo imortal da bossa nova, por exemplo. Saiam da mesa, copos e garrafa na mão, e acomodem-se num sofá macio e acolhedor. Uma dica final de alguém que já foi brindada com isso (com resultado inesquecível...): reze para que ela tenha chegado calçada com lindos escarpins e faça os brindes seguintes utilizando-os no lugar das taças. Atenção: não é fácil beber de um sapato, mas, afinal, quando isso estiver acontecendo, não haverá como estragar a roupa de ninguém.

Tudo isso por que o erotismo é freqüentemente ligado à bebida e, mais ainda, à boa comida: um estômago mais do que satisfeito solicita aos demais sentidos a urgência de satisfações ulteriores.
Nos anos sessenta, lembro de uma cena do filme Tom Jones em que a já cinqüentona Angela Lansbury estava sentada à mesa rústica de uma taberna - coisa de aventuras e espadachins – estraçalhando peles e carnes de frangos e carneiros: gordura descendo pelo queixo, língua catando resíduos em volta dos lábios, dedos ensebados esfregando o decote entre seios suados. E seus olhos despindo furiosamente a farta camisa branca do jovem à sua frente, que, no mesmo frenesi, também deglutia a comida, arrancando a dentadas até a cartilagem dos ossos. O erotismo da glutonaria era tão forte que não foi necessário acompanhar a corrida dos dois para a cama.
Pornografia? Para isso deveriam ter estado os dois, já nus, comendo e comendo-se na mesa, num ritmo de toques e de frases que se entredevorassem e se repetissem entre si. Então, todas as fases anteriores da película, tão elegante e classuda, apesar do argumento, estariam obliteradas, e as cenas seguintes, jogadas à vulgaridade. Se cenas assim fossem a constante do filme, não seria mais nem pornografia, mas obscenidade, que – parece-me - é a pornografia acrescida do mau gosto.
E o que dizer de O último tango em Paris - se não me engano, do Bernardo Bertolucci, -, cujas cenas de sexo com preliminares de prática discutível não conseguiram ser nem pornográficas nem obscenas. A habilidade do diretor enquadrou no personagem (um Marlon Brando silenciosamente dilacerado pelo remorso) a transformação de sua culpa em luxúria desenfreada, perante uma parceira (aquela Marie Schneider, de grandes atuações e pouquíssimos filmes) vagante entre a incredulidade da situação e a esperança de um orgasmo inesperado.
Nos anos 70, mais precisamente em 1973, uma produção ítalo-francesa, intitulada La grande bouffe (A comilança), chegou aos cinemas europeus com grande escarcéu, sem proibições, sem censuras, arrebatando o grande Prêmio da Crítica Internacional. Tudo isso pela habilidade artística dos roteiristas Marco Ferrero e Raffaele Ascona . Dirigido por Ferrero (Ah! Esses italianos...), o filme contava a determinação de quatro homens a matarem-se de tanto comer.
Interpretados por atores do calibre de Marcello Mastroianni, Ugo Tognazzi, Philipe Noiret e Michel Piccoli, os personagens – cada um com suas frustrações, que os levaram a tamanha decisão - transmitiram sem excessos nem vulgaridade as ansiedades emocionais e culinárias de cada um. Era de ansiedades que se tratava e não de mera fome. Numa grande mansão, num ambiente de grande cozinha e seus apetrechos, entre uma daquelas enormes geladeiras de madeira com janelão de vidro dos açougues e fogões de mil bocas a gás e a lenha, sabores e aromas pareciam invadir a sala do cinema. Entre as mesas dos jardins e dos dormitórios - onde também transitavam prostitutas, embora não houvesse nenhuma cena de sexo esplícito -, os pratos exalavam sensualidade. Nem a presença de uma Andréa Ferreol, atriz de opulência “junônica”, conseguiu dar ao conjunto uma conotação pornográfica. Tudo foi erotismo e sensualidade: na tela. A platéia: à flor da pele.
Saí do cinema, quase correndo naquela avenida desconhecida, à procura de uma farmácia: queria um alka-selzer a qualquer preço. Eliminada sua efervescência por boca e nariz, continuei em disparada na direção ao Hotel em que estávamos hospedados e onde deveria encontrar meu marido, após sua reunião de negócios. Desejei ardentemente que ele já estivesse lá. Estava. Ardentemente foi o termo certo.
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Erotismo x pornografia
por Marisa Fernandes
Muitas vezes nos deparamos com frases como: “Isso é muito pornográfico, prefiro algo mais erótico”. Mas, afinal, o que é pornografia? E o que é erotismo? Penso que cada um de nós tem uma percepção diferente para cada uma dessas palavras...

A pornografia pode estar presente em um filme (de gosto duvidoso?), em uma obra literária (podemos chamá-la assim?), em determinados espetáculos (?), na mente de uma pessoa...

Uma obra pornográfica é:

algo bruto,
não lapidado,
grosseiro,
agressivo,
algo que se apresenta “nu e cru”,
vai direto ao “assunto”,
o lado animal do ser humano,
o grotesco,
a exploração sexual ...
É algo devasso,
é apelativo,
é de mau gosto,
é tosco,
é escancarado,
é obsceno,
é explícito ...
Pode nos causar aversão!

O erotismo pode estar presente em um filme (com um forte apelo sensual, que delicia ...), em uma obra literária (que nos sensibiliza), em uma peça de teatro (que nos arrebata), em uma obra de arte (que nos encanta), na mente e sentidos de uma pessoa ...

Uma obra erótica é:

algo sensual,
implícito,
voluptuoso,
delicado,
sensível,
traz um prazer delicioso,
que vem aos poucos e,
por isso mesmo,
é mais intenso...
A sensação de prazer se prolonga...
O erótico nos embala,
nos sugere,
nos conduz,
de uma forma leve,
mas firme.
O erótico é Belo
e
pode nos deleitar!

Não há como não se encantar com obras como “O Beijo”, a escultura de Rodin ou “O Beijo”, a pintura de Gustav Klimt.

Sétimo encontro (22-11-2008)

Caros visitantes,

Para o encontro de hoje, propusemos uma atividade lúdica, porém com fim bem específico: trabalhar o vocabulário do poema "O elixir do pajé", de Bernardo Guimarães, que distribuímos no encontro anterior. Nesse poema, há muitos arcaísmos, palavras inusuais de conotação sexual e vocábulos exóticos em geral, por isso achamos interessante propor um lupanar. Lupanar (bordel) é uma atividade lúdica de escrita em que se fornecem vocábulos muito exóticos, cujo significado seja desconhecido da maioria dos participantes. Então, pede-se a produção de um texto que contenha todas as tais palavras. Para contornar a dificuldade, muitos tentam fazer associações com a forma da palavra, seja a forma escrita seja a forma sonora. Mais especificamente: joga-se com a dicotomia significante x significado, a qual compõe o signo. Demos 10 min. para que todos terminassem o texto, depois revelamos os significados e fizemos a leitura oral compartilhada das produções. Gargalhadas!

A lista de palavras foi a seguinte:

cona: vulva; peta: mentira; endefluxar-se: constirpar-se; pívia: masturbação masculina; manitó (manitu): entre os índios alonquinos dos EUA, energia vital, imanente a homens, animais, plantas, fenômenos da natureza; triaga (teriaga): medicamento caseiro, antídoto contra veneno; inúbia: tipo de trompeta de guerra dos índios tupi-guaranis; boré (toré): trompeta; marzapo: pênis; crica: vulva.

O resultado vocês conferem em "Produções - Lupanar".

Em seguida, a partir de uma autocorreção que fiz numa estrutura lingüística que havia construído, um escrevivente pegou o gancho e criticou o padrão lingüístico estabelecido pela Rede Globo e pela elite em geral, dizendo que se tratava de um empobrecimento da língua, além de excluir socialmente os falantes de outras variedades lingüísticas que não a de São Paulo. Sua crítica encontrou muitos adeptos, então passamos a debater com mais cuidado a relação existente entre língua e poder (1), o que pensamos ter sido muito enriquecedor para todos nós.
Após o intervalo até o fim do encontro, passamos a explicar passo a passo como criar e manter um blog, uma vez que acreditamos nele como sendo uma ferramenta importante para a publicação dos textos.
Pedimos que todos terminassem seus textos revistos após a troca em duplas e nos enviassem por e-mail, a fim de que fizéssemos nossas sugestões, eles reelaborassem o texto - se quisessem - e nos reenviassem para a publicação aqui. Tais produções "finais" (1) estão em "Segunda Proposta".
Loreta
1. Para um aprofundamento do tema, recomendamos a leitura de:

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália (novela sociolingüística). São Paulo: Contexto, 1997.
____________. A norma oculta - língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola, 2003.
____________. Preconceito lingüístico - o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
____________. http://www.marcosbagno.com.br/index.htm (site oficial, acesso em: 03-12-2008).
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras, 1996. Toda a obra desse mestre é recomendadíssima!

sábado, 29 de novembro de 2008

Eros, o último que morre


Por Roberto Dupré


Lá, em Kathmandu, no topo do mundo, onde se vê o mais alto e o mais profundo, vivem apenas dua espécies de aves: as multicoloridas esperanças e os frágeis pálidos sonhos. As esperanças se alimentam dos sonhos, cujas plumas entopem os córregos congelados e as geleiras em formação. Quando não há o que comer, as esperanças voam para as planícies e nos quartos improváveis dos bairros invisíveis, nos fazem acreditar que todas as coisas são possíveis. Até mesmo ter Você. E, quando fenecem, tudo o que resta são pequenos sofreres e dores imensas.
Da janela do monastério, lá em Kathmandu, um monge cansado e sem paciência sorri um último sorriso.

domingo, 23 de novembro de 2008

Sexto encontro (15-11-2008)

Caros visitantes,

A programação do encontro de hoje não foi ambiciosa em termos quantitativos, tendo sido nosso objetivo consolidar algumas conquistas que logramos ao longo do módulo deste Escrevivendo.
Primeiramente, quisemos ouvir dos escreviventes seus comentários a respeito do debate que lhes proporcionamos com os poetas Glauco Mattoso e Donny Correia e com o filósofo Valter José (veja "Quinto encontro"). Glauco, ao mesmo tempo que aclamado por muitos escreviventes (a maioria), sofreu a crítica de ser simplesmente um poeta que escrevia para se livrar de traumas. Contra isso, lembramos o interlocutor de que se tratava, na verdade, de se escrever a partir dos traumas, exortado por eles: por ser cego e homossexual, principalmente. O objetivo principal de Glauco Mattoso - e de toda poesia satírica - é vingar-se da sociedade. E por que criticar a escatologia presente em sua poesia se "a sociedade é suja" (comentário de uma escrevivente)? Outro escrevivente atenta-nos ao fato de que o poeta constrói uma persona satírica, com a qual não necessariamente se identifica por completo. Diz ele: "Duvido que o Glauco faz tudo aquilo que ele relata em sua poesia". Provocação!
Quanto a Donny, foi unânime a opinião de que ele foi prejudicado, uma vez que houve pouco tempo para que falasse de si e de sua poesia, a qual, segundo Bruna, nossa escrevivente, é tão afetiva, tão sensível e, ao mesmo tempo, precisa.
O principal comentário a respeito de Valter José foi de que eles, escreviventes, antes de conhecê-lo, não imaginavam que seria possível unir tamanha erudição ao gosto pelo pornô. Criticou-se o fato de o cinema ter sido muito mais inquirido que a poesia de Glauco Mattoso e de Donny Correia.
Em relação à atividade do debate, ficamos muito satisfeitas com os comentários. Uma escrevivente disse que foi uma "oportunidade espetacular, pois nunca me imaginei conversando com um cineasta de filme pornô", enquanto outro disse que "a discussão foi de grande profundidade."
A segunda metade da aula foi reservada inteiramente ao que chamamos de troca em duplas. Durante 1h30, os escritores tiveram a oportunidade de reler o texto uns dos outros e comentá-lo com mais acuidade, criticando com minúcia cada pormenor da linguagem. Trata-se de um dos momentos mais importantes do Escrevivendo, pois dá continuidade à reflexão sobre o processo de escrita e sobre a atividade de metalinguagem, numa oportunidade de pensar sobre os diferentes efeitos expressivos de diferentes construções, repensar escolhas lingüísticas e descobrir alguns meandros do processo criativo, desautomatizando o que é "inconsciente" na escrita.
Infelizmente, nesse momento notamos certa resistência por parte de alguns escreviventes, e achamos importante esclarecer o objetivo, o porquê da troca em duplas, além do que já expusemos acima. O fato é que o Projeto Escrevivendo, assim como o método de ensino de escrita de Lucy McCornick Calkins (1989), o qual procuramos seguir, vê na interação com o outro uma das principais funções da escrita e do discurso em geral. Se, por um lado, a interação se dá de forma magnífica na leitura oral compartilhada dos textos, nós, participantes de uma oficina de escrita, não poderíamos deixar de estabelecer tal interação também com o texto escrito, o que se materializa através do "comentário":
A participação do outro, ultrapassando a revisão que seria a de um corretor ortográfico ou gramatical (...) traz para a pauta de discussões o funcionamento real do discurso, a construção dos significados, as inferências, a interlocução possível com um destinatário distante (GARCEZ: 1988).
Não faria sentido para nós somente a revisão gramatical por parte do professor, que seria o único interlocutor do texto e seu único leitor. Dessa forma, o processo de escrita ficaria muito fechado, o que vai totalmente contra nossa concepção pragmática de que a língua e os textos são uma forma de intervir no mundo, socialmente, portanto. Ainda que os textos sejam ótimos e já muito bem escritos, como no caso desta nossa turma, sempre há o que melhorar, e a busca pela precisão, pela máxima expressão nunca se completa. Esse é um fato nada desalentador, pelo contrário; deve-se encará-lo como uma provocação, uma exortação ao trabalho com a linguagem!
O Projeto Escrevivendo, assim como o método de Calkins, prevê a leitura cuidada do professor, a qual os alunos esperam e exigem, mas desde que não seja a única leitura.
Durante a troca em duplas, Mafuane e eu fomos a cada uma, tentando aconselhar, ver e ouvir o que estava sendo feito, acompanhar a atividade de perto. Adoramos esse momento de labuta e de esquecimento de si por parte dos autores. O tempo voa e o resultado é magnífico, como pudemos constatar nos textos que vimos recebendo, os quais serão postados logo mais.
Loreta
BIBLIOGRAFIA
CALKINS, Lucy McCornick. A arte de ensinar a escrever. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
GARCEZ, Lucília H. Anotações para o futuro. In: A escrita e o outro - os modos de participação na construçao de um texto. Brasília: UnB, 1988. p.158.